domingo, 15 de maio de 2016

com a desculpa de ser indiferente
de não gostar de dizer nada sobre o que realmente importa
de aprender a arte do "calar-se"
da maestria do "se segura"
da covardia do silêncio 
eu me fechei.

escolher não lidar com o que me intriga,
preferir a dúvida,
contentar com a minha versão da história,
não me entreguei.

nas memórias, arrependi-me
no presente, abstive-me
no futuro, vai tudo ser em vão.

sempre haverá o peso da razão,
as consequências das escolhas,
o desfecho traçado pela ausência da ação.

terça-feira, 22 de março de 2016

Um mundo louco,
Um compasso alucinante.
Os sentimentos ávidos são rápidos,
Sensibilizantes, mas, pouco memoráveis.

Uns buscam a calma,
Capaz de aquietar uma mente pensante e, talvez, inspirar o coração.

Outros buscam aquele rítmo inquietante,
Que desprende a razão das atitudes,
Que mascára um sentimento que não se quer.

Dentre estes, somam-se outros sem voz.
Sem voz nem pensamento,
Que tocam a vida em qualquer tom,
Conforme dita o mundo,
Sem nem, ao menos, tentar entender o porquê,
Enorme distração.

A melhor forma de viver, não sei.
Não se sabe.
Talvez não cabe nessa falta de evolução.

Questionar-se ainda é válido.
Mas não procure encontrar qualquer razão.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Dois corpos quentes e diferentes,
Cada qual com sua história,
Com sua memória e profunda indecisão.
Mas o que importa quando o desejo que não se disfarça,
Que ninguém quer demonstrar,
Mas verdadeiramente não se pode esconder.
Cada palava soa como um "eu te quero" ao pé do ouvido.
Um sorriso é, de igual forma, "vem aqui comigo" disfarçado de boas intenções.
Um desejo maroto, safado mesmo, pra ser bem entendido.
Não quer ser repreendido, por nenhuma das partes dessa, digamos, contravenção.
Olhares que fingem não se encontrar,
E juram não confessar toda a atração.
Mas que transbordam com toda intensidade.
No jogo de não poder,
Onde o que vale mesmo é o querer.
Quem liga pra todas essas normas,
Quando a vontade só transborda,
E nossa insônia vira bossa, nesse negócio de prazer.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Florbela

Saudades

Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florberla Espanca

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Das piras

Cada história que eu vivi,
Só a mim pertence.
Lembradas através de fotos,
Do riso,
Da memória,
Do sonho,
Da dor,
Do sonho.

Das sensações únicas, 
Como o vento que me lembra um dia qualquer,
Do cheiro que me leva a outros lugares,
Do sabor de cada canto,
Da misturas de tempeiros que me fazem viajar de novo.

Do som, 
Dos sotaques,
Da insegurança,
Dos sustos,
Dos medos,
Da coragem,
Da minha força,

Do cansaço,
Da alegria,
Da tristeza,
Da solidão,
Da sintonia.

Do choro,
Da resiliência,
Do perdão,
Do sorriso,
Da tempestade,
Da forma que bateu o coração

Da saudade,
Da ilusão,
Do entendimento,
Da pura razão.

Do nascimento,
Do renascimento,
Da mudança,
Do sentido,
Da construção do ser,
Da reconstrução.

Do retorno
Do encontro
Do reencontro,
Da saudade, mais uma vez.

Das conquistas,
Das perdas,
Do amadurecimento.

Da felicidade,
Do sentimento de que eu tinha que ter visto isso tudo,
Ter vivido cada sentimento,
Descobrimento,
Auto-conhecimento.


domingo, 30 de novembro de 2014

Quatro meses

Saí da minha casa, do meu país, do meu conforto.
Queria encontrar a felicidade, aqui dentro.
Aprender a ser feliz sozinha.
Contemplar novas paisagens,
Conhecer pessoas,
Saber dos problemas e soluções do velho mundo.
E o fiz.
Me sinto mais madura,
Mais inteligente,
Mais interessante.
Também entendi que nenhum lugar é perfeito.
Que todo mundo tem defeito.
Eu aprendi mais sobre a saudade...
Ah, a saudade!
Ela realmente muda a gente.
Sinto falta do nosso sol,
Do nosso por-do-sol.
Da minha família,
Dos meus amigos,
Da comida, do churrasco, do feijão.
E também sei que quando eu voltar,
Sentirei saudade de tudo que estou vivendo.
Entretanto, não é aquela saudade amarga,
Que me faz triste,
Que me faça sofrer.
É uma saudade doce,
Que sei que dará um sabor todo especial nos abraços,
Nos carinhos,
Nos beijos,
E tudo mais que eu receber quando voltar!
Sou feliz, ainda mais feliz por saber que meu Brasil e meus amores me esperam,
De braços bem abertos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O peso da razão

Eu queria muito poder te querer.
Dizer mais do que digo e também pensar em coisas mais profundas, as quais hoje, eu desvio o pensamento, evitando-as para o meu bem estar.
Queria mesmo fingir que você é um homem que foi feito pra mim, que, talvez, pudesse me acompanhar por muito e muito tempo.
Sonhar com a viagem que, eu acho, que nunca faremos.
Poder idealizar as palavras que eu não escuto.
Poder te dizer mais do que apenas - sinto sua falta.
Porque, de fato, sinto mais que só a sua falta.
Queria mesmo é não ter conversas interrompidas por não querer extrapolar a razão, e não deixar fluir o sentimento que eu tranquei em algum lugar e joguei a chave fora.
Sou eu, mais uma vez, sendo ridícula e querendo o impossível.
Mas, quando fecho meus olhos, ou quando vejo algo que lembra você, eu não consigo não pensar na habilidade que tens de me traduzir, de me ler sem que eu peça, de entender o que eu preciso...
Você me ganhou pouco a pouco, depois de tantos anos... 
Te conheci em outro fuso horário, nem sequer pensava que poderia existir eu+você.
Tudo mudou completamente depois que nós nos experimentamos...
Que sentimos pela primeira vez o gosto, o cheiro, e o calor do outro.
Em noites frias, outras quentes, eu tive você. E você me teve, por inteira. Como jamais permiti qualquer outro.
Algo muito mágico e indescritível, que apesar da razão dizer: "ei, pare por aí", eu deixei a vontade gritar: "venha aqui, de novo" e de novo, e mais outra vez...
E não me arrependo um só segundo.
Hoje eu estou longe, mas talvez nunca estive tão perto em pensamento, com tantos desejos, com essas palavras que não posso dizer, com vontade de te ligar só pra escutar sua voz.
Mas, a razão martela sem pesar, e eu volto pra realidade e coloco-me a pensar: você apenas terá o que já vistes, jamais o que sonhastes.